Um olhar para a cidade

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Foto aérea de Guapé
Foto registrada da torre da igreja matriz por Renato Faria

PARA cada cidade existe um olhar, uma direção, um lugar!

É muito prazeroso chegar, se desfazer dos apetrechos e partir para a descoberta. Um pouco como um sobrenome, sempre existirá um lugar que nos identifica. É neste lugar que nossos olhos alcançam mais longe.

SEMPRE que chego a Guapé tenho pressa, em ir encontrar “seus” (ou os meus) lugares e quase sempre a pé.

SALVO raras exceções as cidades estão sendo construídas para não serem vistas ou mostradas, tudo precisa ser rápido, não dá tempo. Construíram um Minhocão, em São Paulo, para acelerar o trânsito do centro, tiraram o canteiro central da Av. Brasil em Guapé para tornar o fluxo de veículos mais rápido também. Fizeram igualmente adaptações na Av. Dr. Olavo Pinheiro, neste sentido. Tudo é feito para ir mais rápido, sem podermos olhar para as casas, os prédios.

ESTÃO querendo nos dizer que o destino é mais importante de que o caminho, que chegar é mais do que o caminhar.

PERAMBULAR por Guapé, ainda pode ser uma viagem, ainda que imaginária, no túnel do tempo. Tudo depende do olhar, desde que seu olhar não fique parado nas fachadas, mas adentre as casas, cumprimente as pessoas ainda que ausentes, ressuscite os que já se foram.

ASSIM a casa, hoje modesta e já usada pelo tempo, com suas portas e janelas de vidraças, uma vez transposta a sua entrada me leva àquela tarde em que fui falar com meu amigo, hoje, de longa data.

LER o nome da minha escola primária, ainda que não seja no lugar onde estudei, me leva a rever momentos, alguns exclusivos como aquele em que antes de entrar para a sala depois do recreio, os alunos se perfilavam à frente da professora e só depois seguiam em fila para dentro da sala, já em silêncio.

CAMINHAR mais um pouco e rever a casa, de alpendre, refazer a cena da conversa com meu colega, e sei lá quase parente, o Bolão que já se foi. Ninguém duvida de que somos mais frágeis de que o mundo que nos cerca.

PARAR debaixo de uma placa com o nome da rua por onde passaram tantos cortejos fúnebres levando “anjinhos”, mulheres, idosos que chegavam direto da matriz para a sua morada final – o cemitério!

E por fim e não menos importante, parar frente ao único “monumento” da cidade – o Bungalow*.

Bangalô de Guapé MG
Bangalô de Guapé. Foto: bas2.com.br
* Bungalow é uma palavra de origem inglesa que significa um tipo de construção de um só andar, rodeada de varandas e muito popular na América do Norte.

AQUI a viagem se projeta no espaço e no tempo, o olhar não para nas colunas imponentes, mas entra na história: De onde teria vindo a inspiração para esta arquitetura, quem idealizou e realizou ou ainda como foi o olhar do guapeense para aquela criação, única, ousada?

Se tivesse continuado um pouquinho mais naquele lugar, certamente eu veria damas com suas saias longas, cinturas apertadas por espartilhos, adentrando o salão na noite da inauguração!

A próxima vez que você for a Guapé, ande a pé!

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