Para mim ela não se foi. Continua perto de mim, dia e noite

Padre Vânis Vieira
Padre Vânis Vieira

É comum nas manhãs, quando a escuridão vai perdendo sua força, contemplar aquela aurora que paira no céu, tão bela e feliz. Além de tudo, com humildade, visto que a aurora dura pouco tempo e logo surge o sol imponente. A luz da aurora é apenas antecipação, sinal da luz maior que o dia recebe. Pois, por si só ela não existe, não tendo luz própria. A aurora que precede o sol! Como é misterioso este tempo em que ela surge e logo vai embora! A aurora que nos garante que o sol chegará para esquentar nossos campos.

Algumas pessoas que passaram por este mundo são semelhantes à aurora. Trouxeram em suas vidas marcos de uma luz humilde que nada mais foram do que apenas reflexo da Luz Maior que é Cristo. Viveram, sem querer ocupar o destaque, a glória que é devida somente Àquele que é a “Luz do Mundo”. A Serva de Deus Madre Tereza Margarida do Coração de Maria se enquadra muito bem neste contexto, pois sua vida foi apenas um singelo e humilde reflexo de Deus.

Madre Tereza Margarida nasceu no dia 24 de Dezembro de 1915. Enquanto nas Igrejas e casas se esperava com ansiedade o momento de colocar no presépio a imagem do Menino Jesus. Em sua residência na cidade de Borda da Mata (MG), nestas “vésperas” do grande dia 25 de Dezembro, ela nasceu: Maria Luísa Resende Marques. E como aurora tem gosto de mistério, Madre Tereza veio ao mundo, nesse dia, justamente para uma grande missão: ser a aurora de Deus. Toda a sua vida foi uma vivência concreta deste pormenor misterioso, tanto que nutria profunda devoção ao Menino Jesus e apenas quis ser para Ele um “sapatinho”.

Sendo uma “aurora”, desde pequena cresceu nos caminhos da Igreja e com fidelidade buscou testemunhar diariamente o sol perfeito que é Cristo. Nunca quis ocupar o lugar do “SOL”, contentou-se em ser simplesmente um instrumento nas mãos Dele. Nas diversas ocupações na vida religiosa não procurou obséquios para si mesma. Atestam suas palavras: “Três tentações nunca tive na vida: contra minha fé, minha vocação e o desejo de ter o cargo importante”.

É muito próprio do coração que é humilde aceitar e querer viver a condição de “aurora”. Às vezes percebermos na vida da Igreja muitas pessoas querendo obscurecer com seus egoísmos o essencial. Rejeitando ser “aurora” para almejarem brilhar como se fossem “sol”. Tal deslize, creio que Madre Tereza não cometeu. Entretanto, entendo que, se foi tentada a tal “bem querer de si mesma”, o seu amor para com Deus a conduzia ao reconhecimento do próprio lugar. Suas palavras, gestos e acima de tudo o seu sorriso apontavam para Jesus. Não viveu para si mesma. Sendo humilde aurora, apenas surgiu para mostrar algo mais importante. Uma frágil luz que foi capaz de tornar fortes muitos corações. Um pequeno brilho que foi capaz de abrir fronteiras, de romper obscuridades nos corações. Doce abraço que permitia o sentimento de acolhida e alegria.

Padre Vanis e Madre Teresa
Padre Vanis e Madre Teresa.

As pessoas que tiveram a oportunidade de ver, conhecer e conviver com a Serva de Deus Madre Tereza, com certeza foram tocadas e conduzidas para o Coração de Deus.

A beleza da aurora, muito embora antecipe o que é “Belo e perfeito”, costuma encantar deixando ares de saudade. E como sentimos ainda saudade de Madre Tereza!

No dia 14 de Novembro de 2005, pela madrugada, ela foi para o céu. Foi feliz por ter cumprido sua missão entregando sua vida a Deus.

Claro! Neste dia ela não desejaria brilhar antes dele, quis deixá-Lo brilhar sozinho no horizonte. E por ter sido tão humilde, não se fez aurora fazendo o que buscou a vida toda: mostrar Deus. Quando a aurora veio, na verdade Madre Tereza já brilhava na Glória da Luz e já havia cumprido a sua missão.

Ainda continua viva em nossos corações! Seus exemplos nos encorajam na caminhada da fé. É bem como disse, a sua irmã, Mariana Marques: “Para mim ela não se foi. Continua perto de mim, dia e noite”. A aurora vem e vai logo embora, mas a gente não se esquece do quanto é bom, antes do sol nascer, contemplar no céu tão humilde presente.

Padre Vânis Vieira da Cunha .

Biografia de Madre Teresa Margarida

Madre Tereza Margarida
Madre Tereza Margarida

Madre Tereza Margarida do Coração de Maria, religiosa carmelita e fundadora do Carmelo de São José, na cidade de Três Pontas, Diocese da Campanha (MG), nasceu no dia 24 de dezembro de 1915, em Borda da Mata (MG). A quinta filha do casal Francisco Marques da Costa Júnior e Dona Mariana Resende Costa recebeu o Batismo, no dia 10 de fevereiro de 1916, na igreja de Nossa Senhora do Carmo (hoje Basílica), em sua cidade natal, com o nome de Maria Luiza.

Em um retiro no colégio, ainda muito nova, sentiu o chamado de Deus para a vida carmelita. Tal voz interior se repetiria em uma peregrinação a Aparecida, quando, na matriz-basílica, rezava na capela do Santíssimo. Esse apelo divino foi confirmado depois da leitura da obra Memórias, da também carmelita Elisabeth da Trindade. Sem nenhuma dúvida, vencendo a resistência paterna, entrou, como postulante, para o Carmelo de Santa Terezinha, em Mogi das Cruzes (SP), no dia 29 de maio de 1937.

Apenas 20 dias depois do ingresso, seu pai faleceu. A ocorrência muito a fez sofrer por estar na clausura e não junto à mãe que tanto amava. Em 1935, João Resende Costa, um de seus irmãos, havia sido ordenado sacerdote na Congregação dos Salesianos. No ano de 1967, se tornaria Arcebispo de Belo Horizonte (MG), o que bem demonstra a forte religiosidade na família da Serva de Deus.

Terminado o tempo previsto para o postulantado, nossa jovem recebeu, no dia 16 de janeiro de 1938, o hábito carmelitano. Junto à veste religiosa ganhou também um nome novo (cf. Ap 2,17) – Irmã Tereza Margarida do Coração de Maria – e passou a proferir, todos os dias a jaculatória: “Mãe, que o vosso Coração, seja o lugar da união, de Jesus com Tereza Margarida”. Em 2 de fevereiro de 1939, fez a profissão simples e, exatamente, três anos depois, proferiu os votos solenes, para toda a vida.

O Carmelo de Mogi das Cruzes, contudo, era um tanto improvisado e, por isso, as celas (quartos) das religiosas ficavam úmidas, o que muito lhes prejudicava a saúde. Daí, graças ao Cardeal Dom Carlos Carmelo de Vasconcelos Motta, a comunidade transferiu-se, em 1952, para Aparecida, a capital nacional da fé. Lá chegavam, de várias partes do Brasil, muitos pedidos para novas fundações, dentre eles o de Monsenhor João Rabelo de Mesquita, Vigário Geral da Diocese da Campanha (MG), que foi atendido.

O então Bispo da Campanha Dom Inocêncio Engelke, OFM, concedeu a licença para a instalação das carmelitas em Três Pontas. A inauguração do Carmelo São José se deu, no dia 16 de julho de 1962, Festa de Nossa Senhora do Carmo, e Irmã Tereza Margarida fora designada como fundadora junto a mais sete irmãs. Moraram em casas adaptadas até a instalação definitiva no dia 22 de janeiro de 1969. Ai, Irmã Tereza foi sub priora, priora, mestra de noviças e ouvinte atenta do povo que a procurava.

Sim, na vida de clausura, de fiel obediência à Igreja, nos tempos do pós Concílio Vaticano II (1962-1965), atendia ao povo que a procurava no parlatório (= lugar onde se fala) a fim de lhe pedir conselhos e orações para as causas mais diversas. Nasceu desses próprios fiéis o carinhoso apelativo de Madre Tereza Margarida, “Nossa Mãe”.

Chegado ao fim de sua caminhada neste mundo, os problemas de uma saúde frágil foram se acentuando. Ela, porém, a exemplo de Cristo, tudo sofria em silêncio e adoração, repetindo sempre: “Como é bom estar nas mãos, no coração de nosso Deus! Como saboreio o seu amor, a sua ternura!”. Com esse espírito, entregou sua alma ao Pai celeste, no dia 14 de novembro de 2005.

Certas dos sinais de santidade da fundadora, manifestados no cotidiano da vida, na morte (enterro grandioso e comovente) e depois da morte, o Carmelo pediu a abertura do seu Processo de canonização, que foi iniciado, em 2012 e concluído, em sua etapa diocesana, no ano seguinte. Hoje, todo material aceito em Roma, no dia 28 de março de 2014, encontra-se em estudo para a elaboração da Positio sobre a prática das virtudes em grau heroico da Serva de Deus.

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